6.6.09

1 de Junho


Hoje, era aquele teu dia. Não era apenas mais um dia. Mas o teu dia. O dia do teu aniversário. E recordo-me, de não me lembrar de teres algo em ti de criança. Sinto em mim a estranheza profunda da tua passagem pela vida. O absurdo sem tamanho da tua morte. A vida frágil da tua essência que transmitiste a um pequeno ser que, sem saber muito bem, transporta consigo uma saudade e uma falta que ainda não aprendeu a medir. E confesso-te agora. Foram tantas as vezes que desejei ir no teu lugar. Foram tantas as vezes que fiz os balanços das nossas vidas e dos vazios das nossas ausências. Em tudo, a minha vida se media em milímetros… e a tua, em largos metros nas possibilidades infinitas que tinhas de enriquecer o mundo através do teu pequeno ser. E hoje. Hoje, senti que não vivi. Hoje passeei-te. Dentro de mim. Aconcheguei-te no espaço mais silencioso de mim e contei-te sobre a minha vida. Do que me fica e do que me resta ao chegar ao fim dos dias. Do peso que repousa na curva branca da cama que existe ao meu lado quando durmo e que visto pela manhã. Contei-te sobre o que em mim não consegues agora reconhecer. Sobre as escolhas que fiz e que sei que entenderias assim que os teus olhos me envolvessem com aquela candura de um verde água que denunciava a paz do teu espírito. Que desvelava o tamanho do mundo que os teus ombros possuíam no acolhimento dos meus monstros para os pacificar. Hoje… Hoje, fui egoísta. Tomei o teu tempo e demorei-me. Alonguei-me para te conseguir chorar. Não perguntei pelos teus. Por aqueles que deixaste. Hoje, fechei as janelas e deixai-me estar ao teu lado nesse canto mais escuro de mim.