6.5.09

Da relatividade...



No tempo em que eu era pequena, em que havia unicidade e coerência na idade e no tamanho, os brinquedos que me acompanhavam eram uma caneta e um papel. Rabiscava o dito até à medula. Fascinava-me o que restava após tantos movimentos desalinhados a nascerem da minha mão. À medida que o tempo mostrava a revolta da idade perante o tamanho, fui dando conta que tinha um desejo secreto. O de ser escritora. Um desejo grande próprio de gente pequena, eu diria. Nessa altura, consolava esse desejo com a sensação nítida que tinha muito para dizer... à conta da contenção nos discursos. Curiosamente, a passagem do tempo vai-nos mostrando que devemos provar, enquanto podemos, os extremos permitidos ao paladar. Agora que considero já ter vivido um pouco, para preencher o tanto que tinha para dizer, sucede-me ter muito pouco para dizer. A relatividade tomou-me conta dos olhos. A importância desmaiou no meu entendimento. A necessidade... essa refinou. Tornou-se arisca. Arrogante. Passeia-se demoradamente na minha mente em momentos de tormento. Como se adorasse fazer transbordar a minha taça de inquietações, fazendo das gotas caídas a pique palavras que têm o tamanho do universo na relatividade que lhes assiste.

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3 Comments:

Anonymous samartaime said...

Chame-lhe silêncio. Com os «tratados» sobre o diverso ruído, calemo-nos. A polémica do mentir e desmentir ainda é pior que toda a metafisica. Calemo-nos, que os tempos são de crise.
Abraço!

9/5/09 21:25  
Blogger M. said...

:)
Um abraço grande

11/5/09 10:19  
Anonymous sotavento said...

Perfeito! Como sempre! :)

15/5/09 22:53  

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