21.1.09

Da desobrigação...


Não sei que nome lhe devo dar… A este distanciamento íntimo das coisas que me rodeiam. Das pessoas que passeiam dentro do meu círculo de afectos. A esta desistência de palavras. De gestos. De esforços. A esta paralisia que se confunde com uma espera, de nada. A sentir que nada do que intento, produz um efeito positivo. Que o que quer que diga mereça a pena, porque nem o vento ouviu e nem a palavra teve tempo ou espaço para pousar. A sentir que já não há espaço para a desilusão. Para a desatenção ou descuido. E sinto-me a envelhecer a passos largos no valor que dou a certos pormenores. Na importância que atribuo ao que de mim cuidam. Valorizam e guardam. Como se estivesse a poucos minutos de desaparecer. Encontrei, ao longo da vida, duas ou três pessoas a quem designei como sendo a minha memória fora de mim. Mostrei-lhes o que era ser eu. Se é que isto se pode dizer assim. E ia actualizando-lhes o meu viver, o sentir que me ficava das coisas. Porque me sentia ‘obrigada afectivamente’ a fazê-lo. Porque o queria fazer. Eram a minha memória. Porém, por razões várias, fui deixando de lhes contar os meus dias. Porque foram acontecendo coisas que, de certa forma, me libertaram dessa obrigação. Talvez algum descuido. Alguma desatenção ou deslealdade. E assim, aconteceu-me, por vezes, não encontrar sentido em fazê-lo. Fui fechando, aos poucos, a porta. Porque nem sempre sinto vontade de o fazer. Porque em nada adianta mostrar o que não vêem. Desobriguei-me. E deve ser este o nome dessa coisa que me distancia tanto: desobrigação afectiva.


9 Comments:

Blogger MC said...

E deviam (aqui) ganhar voz [todas] as pessoas a quem, de facto, fazes falta... Com tudo o que contens...

Beijo na testa, M.zita

21/1/09 10:33  
Anonymous Anónimo said...

Boa tarde. Gostei muito deste texto, mesmo que pressinta a tristeza na sua inspiração... Acredito que podemos sempre encontrar outras pessoas que nos implicam e que a elas nos "obrigamos afectivamente" novamente, mesmo que no momento isso pareça apenas miragem :)
Beijo

21/1/09 15:06  
Blogger rainbow said...

Também me identifiquei muito com este teu sentir, parece que sinto um embutamento afectivo e curiosamente não sinto isso mau...é no mínimo estranho querer manter a porta fechada.

Abraço

21/1/09 19:34  
Blogger g said...

Se ficarmos totalmente desobrigadas só teremos por companhia a solidão, e essa não só envelhece como nos definha.
Sem qualquer obrigação mas com muito carinho gosto de saber de ti.

Bjs

21/1/09 22:16  
Blogger whitesatin said...

Dear M.,

Acho que compreendo...
Pois eu vejo essa desobrigação afectiva como uma libertação interior. Abrindo assim espaço para me renovar, e para ser mais eu e menos os outros que me influenciam e manipulam.
A minha caminhada é solitária. Acontece naturalmente que surgam afectividades pelo caminho, nos cruzamentos e entroncamentos da vida. Mas no fim, serei sempre eu, somente eu, ser individual, a trilhar o meu caminho, e os outros cada um trilhando o seu próprio percurso.
A vida é a soma das partes, não a divisão do todo.

Um abraço.

22/1/09 13:52  
Blogger whitesatin said...

Este comentário foi removido pelo autor.

22/1/09 13:52  
Blogger a said...

Não te desobrigues, gosto de ouvir as tuas histórias, actualiza-as porque nem o vento mais forte me desvia a atenção.

Mzinha o mês de Janeiro está a acabar...

22/1/09 19:05  
Blogger M. said...

MC
Beijo nessa testa, sim ?

Orquídea
Obrigada pelas palavras.
Tenho sempre a esperança, por vezes cansada, que as pessoas se lembrem que, tal como nos desiludem, continuam a ter nas suas mãos a capacidade de nos voltarem a surpreender e, quem sabe, a merecer a renovação dessa 'obrigação afectiva'
Beijos

Mots a la Bouche
Nem sempre é mau, de facto, esse embutimento... mas coloca-nos por vezes numa fortaleza que, como sabem, diferencia-se de uma prisão porque está fechada por dentro e não do lado de fora. E pode acontecer perder-se a chave de tanto hábito criado nesse distanciamento.
um abraço

Gzinha
Bem sei o que me dizes. E é por isso que quero portar-me bem... sem obrigação e porque também gosto muito de saber de ti.
Beijos, mts

Whitesatin
Bonita essa forma de pôr as coisas.
Gostei.
Mas continuamos sozinhas, como dizes.
Um abraço

A.zinha
Obrigada pela tua amabilidade e ternura. (Tu também és linda, Gzinha!... ;) )
Está sim... mas vou compensar!
Kisses, mts

23/1/09 13:19  
Blogger Su said...

entendo.t bem


jocas maradas.sempre

24/1/09 23:10  

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