Monochrome...
Ultimamente, tenho vivido dias intensos. São dias tremendamente interiores. De uma reflexão que não me larga. E constantemente, dou comigo a rever prioridades. A catalogar pensamentos. Emoções. Valores. A convencer-me que a vida é imensa. E que a minha profissão é apenas uma faceta daquilo que sou. E a esta altura, considero que já não pode contar, de modo absoluto, o facto de lidar com a educação de jovens. Não posso continuar a carregar nos ombros, e a trazer para casa, os problemas que deveriam ter ficado nos limites da escola. Neste momento, não me interessa tomar consciência dos problemas dos meus alunos, das suas dificuldades, do que pensam sobre o futuro que os espera. Não tenho outra forma de sobreviver senão a de cumprir efectivamente o meu horário. Sem dar mais do meu tempo, como sempre fiz, para ser cada vez melhor numa actividade que escolhi porque gosto. E pela primeira vez na minha vida, considero, seriamente e antes de chegar ao limite de odiar aquilo que faço, a possibilidade de sair do ensino. E penso-o porque não acredito que as reformas em curso na educação alguma vez venham a beneficiar os jovens e por consequência a sociedade. Porque aquele bichinho da curiosidade natural, que tanto estimula o querer saber sempre mais, há muito que desapareceu do olhar deles para dar lugar à apatia, ao desinteresse, ao vazio de quem vive o agora esgotando-o apenas porque tem de o esgotar. Porque não se está a promover a humildade, tão necessária à aceitação dos seus, e nossos, erros e à vontade de superar os limites. Não estamos a educar jovens optimistas... e muito menos, a contribuir para a sua felicidade. Não o estamos a fazer quando a escola é sentida como um lugar de obrigação. Uma seca tremenda para onde têm de ir todos os dias em vez de ficaram a fazer outras coisas tão mais interessantes e próprias de uma idade de permanente descoberta...
É um desabafo apenas... e espero sinceramente que o seja. Não gostaria que ganhasse tamanho e se transformasse numa sensação incómoda, desconfortável. Naquela sensação que conduz ao sentimento de inutilidade. Para quê educar ?... quando os próprios educandos não entendem a necessidade... nem o sentido de haver educação. Quando quem tem a possibilidade de resolver o que está mal, porque está no lugar certo para isso, aumenta, e muito, a séria possibilidade de destruir todo o sistema educativo e subverter todos os princípios inerentes ao mesmo.
É um desabafo apenas... e espero sinceramente que o seja. Não gostaria que ganhasse tamanho e se transformasse numa sensação incómoda, desconfortável. Naquela sensação que conduz ao sentimento de inutilidade. Para quê educar ?... quando os próprios educandos não entendem a necessidade... nem o sentido de haver educação. Quando quem tem a possibilidade de resolver o que está mal, porque está no lugar certo para isso, aumenta, e muito, a séria possibilidade de destruir todo o sistema educativo e subverter todos os princípios inerentes ao mesmo.
Today... it´s a monochrome day.
Música: Yann Tiersen, Voz: Dominique A






4 Comments:
O imenso fastio!
Acompanhei-o dois anos. Hoje, liberta dele, a minha companheira espanta-se com a facilidade com que esqueceu a escola.
A totalidade dos professores que conheço - e são bastantes - dividem~se em dois grupos: os que já deixaram o ensino e os que fazem contas à vida para deixar o ensino. É verdadeiramente assustador.
Pilantra
Assustador... e triste.
Ainda assistiremos, nas próximas décadas, à falta de professores.
E as próximas gerações manifestarão uma 'saúde' débil do ponto de vista da cultura e do espírito crítico.
Sobreviveremos. Mal, mas sobreviveremos.
Sabes este texto reflete tudo o que sinto...a mesma profissão que abraço há anos...mas sinto-me tão cansada e tão farta com as mudanças educativas, com os alunos cada vez mais desinteressados que acho que se pudesse mudava de vida...
Sinto um cansaço que me faz pensar e repensar mas não encontro saída.
um abraço
tulipa
Tulipa
um abraço... e tenta sobreviver, sim ? :)
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