Da união siamesa...
Willy Ronis - Le départ
Presentemente, costumo vivenciar com frequência o sentimento que... estou sempre de partida. Que o lugar onde estou seja ele qual for, exterior ou interior, se me afigura com o passar do tempo... e a passos largos como mais uma tentativa vã. Falhada. Diria tremendamente desoladora, de quem não encontrou o seu espaço. Até no amor. Nem me dou conta de chegar. Pois quando me parece que cheguei, apercebo-me que o meu cenário não é o mesmo onde se desenrola a vida dos outros. Por vezes, parece que me distraí demais e que entrei na sala de cinema errada. E no entanto, é o filme da minha vida que vejo a ser projectado. A vida parece arrastar-se em slow motion, quando na realidade a sinto como a água desesperada, rodopiante que está a ser sugada em direcção ao ralo. E é nestas alturas... que não acredito no amor. Na vida. No sentido por detrás de tudo isto. Não sinto desespero nem tristeza. Apenas dormência. Lucidez. E concluo, sem grandes ganhos ou prejuízos, que não acredito no amor. Não como motor da vida. Não como razão de tudo o que existe em nós e à nossa volta. Porque a ser... ele deveria manifestar-se no respeito que deveríamos ter, a cada momento, pelos outros. No saber saborear as suas presenças. No sentir as ausências como forma de valorizar as presenças. No carinho com que deveríamos receber o que não é nosso e saber guardá-lo. Pois esse tanto que guardamos, diz-nos tanto sobre os outros. Dos seus sonhos. Dos seus receios. E isso deveria servir-nos para suavizar as suas vidas, para embalarmos os seus receios com o que sabemos que os acalma. A ser... o amor deveria apresentar-se como escolha corajosa que é. Uma escolha de corpo inteiro a prolongar-se numa atitude perante a vida de constante aperfeiçoamento pessoal. Porque amar... não se resume a seguir emoções. A seguir interesses comuns ou formas de estar idênticas. O amor é muito mais do que isso. É de um tamanho que transcende qualquer medida. E ao entrar nas nossas vidas, deveria-nos ajudar a crescer... no essencial. No que nos torna melhores. Na humildade. Na sinceridade. Na confiança. Na entrega autêntica à nossa própria vida. No desprendimento a tudo o que nos faz ser mesquinhos. Pequenos. Juízes dos outros quando não o somos de nós próprios. O amor a existir... deveria ser sentido como uma redenção que nos pacifica a alma. Como algo que nos reconcilia connosco próprios, com os outros, com o que nos rodeia, com a vida. Talvez, por isso, sinta que estou sempre de partida. Porque o meu coração nasceu siamês da alma. E ao cair da noite, acontece-me no momento em que o coração adormece... a alma continua com insónias. A realizar já as despedidas no seu íntimo. A fazer as malas para mais uma viagem.







3 Comments:
lembrei-me com este texto do principezinho, qd neje se lê q somos responsáveis pelo cativar, e q mts vezes andamos alienados neste sentido,mts vezes por desconhecimento de si próprio, outras vezes pq o ser humano gosta de viver ao sabor da ilusão!
um abraço,e um gd sol
E no entanto... por que faremos as malas?
RV
As ilusões imperam, de facto. Continuamos a ver a vida por uma linha recta e esquecemos que cada momento é um eterno círculo... de recomeço, de nova oportunidade.
Um abraço
Samartaime
Faremos... porque, por vezes, a alma continua insatisfeita. Porque nem sempre o coração sabe fazer as melhores escolhas.
um abraço
Enviar um comentário
<< Home