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Deambulava pelo jardim, quando te vi ao longe sentada num banco. Parei a olhar-te. Era noite. Estava frio e tu, ali, sentada. Sem te moveres. Continuei a olhar-te tentando medir o tempo. Pesando a oportunidade sobre se me deveria aproximar. Baixei os olhos. Talvez não devesse. Existem momentos em que precisamos de nos ouvir. Respirei fundo e decidi-me. Era-me urgente a necessidade de te ouvir. De te entender. Fui caminhando em pequenos passos e não tirei os olhos de ti. Quando cheguei junto de ti, cumprimentei-te com um sorriso. Olhaste-me, sem surpresa. Respondeste-me com o teu silêncio e com um movimento subtil de cabeça de quem não está nem vive por aqui. Sentei-me ao teu lado. E como amigas que sempre fomos, a saber e conhecer os lugares e refúgios de uma e da outra, preparei-me para estar contigo. O frio apertava, mas tu eras-me mais importante. Ao fim de algum tempo de silêncio, não resisti a perguntar-te.
Conta-me… Conta-me como é seres tu. Como és, quando estás no meio das tuas coisas que te isolam tanto dos outros. É prazer ou solidão, o que sentes. Descreve-me, se conseguires…, o que se passa dentro de ti cada vez que ouves frases e palavras, que te soam tão iguais a tantas outras e que nunca te vi conduzir a lado algum. Que sensação possuis quando vais subindo escadas rolantes e te pesa o tempo a demorar-se na impaciência de estares parada e veres todo o espaço que deixas para trás. E sentires que não sais do mesmo piso. Consegues dizer-me… o que é isso de existir no arrasto dos minutos, das horas esticadas a conta-gotas e das tarefas semeadas nos dias que vivem no papel da agenda. Por onde andas… para onde voas quando te ocupas. Que é feito de ti quando nos teus olhos já não cabem mais horizontes por teres deixado de ver. Desenha-me a preto e branco o que é viver sem alegria e sem sonhos. Como é perder o amor naquilo que se faz. A esperança na hora que se segue. Diz-me como é sentir que o coração se ressente no ritmo por ter perdido tantas vezes a fé no que o fazia bater. Conta-me… como é quando a mentira e a dor vivem coladas à pele, quando o amor não basta por teres um corpo invisível. Conta-me… estou aqui. Para te ouvir.







6 Comments:
Não é som de amizade mas de morte.
Explicações, são de vivos. Dos que têm tempo para lamentar a falta de tempo.
Ponto final.
só uma alma bonita pode ter essa deisponibilidade ainda q nem todos a mereçam,
um abraço ,e uma excelente música de um excelente álbum, e ainda de um dos grupos q mais gosto
Excelente texto e excelente musica por aqui.....
Bjs
E sempre, com chuva ou com sol, desde Lisboa ou Madrid ou Berlín, ler o que escreves e como entrar num quarto quente e conhecido...obrigada, obrigada, obrigada.
chave.
A neve já lá vai, está aí a Primavera. Aproveita-a.
Não assumir algumas coisas, dá mau feitio.
Desculpa-me.
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