Do amor...
m.
Sempre que penso no amor... lembro-me de Paris. Bem sei que é um absurdo, podem dizê-lo. E não me lembro dessa cidade pelas razões mais comuns. Fui a Paris pela primeira vez quando tinha 17 anos e percorri quase todos os lugares de interesse e monumentos. Vi quase tudo o que havia para ver. Fui, sem saber muito bem ao que tinha ido. E vim de lá com a alma meio-cheia de memórias que o tempo haveria de insuflar. Voltar lá ao fim de quase uma década e meia, foi uma descoberta à qual ainda não consegui dar nome. Tudo o que guardava e imaginava de Paris correspondia à realidade que tinha perante os meus olhos. Emudeci durante algum tempo. Não havia palavras que descrevessem o que estava a sentir naquele momento. Era como se sentisse a minha alma a crescer em cada respirar que realizava. Estava ali no lugar onde sempre tinha sonhado voltar. E sentia no peito aquela comoção que se possui quando se reconhece um sítio onde a vida nos aconteceu de uma forma mágica. E não era isso que me tinha sucedido quando estive lá aos 17 anos. Desta vez, tinha descoberto que Paris era como um amor silencioso que trazia escondido nas veias. Daqueles que nos enche a alma que de tão grande que é não nos cabe no corpo. E não foi o que tinha vivido em Paris que me fez amar tanto Paris. Era a cidade em si que me fazia amá-la. Era a sua forma repousada nas margens do rio. As fachadas altivas e seguras dos edifícios da margem norte. As ruelas construídas de forma precisa na sua desarrumação incómoda pelo pouco espaço. As portas dos prédios de um tom azul único a darem para os pequenos pátios vestidos com varandas de flores a pender para a rua. As pessoas que trazem em si uma energia vibrante que enfrenta qualquer inverno apenas com um bom casaco e um cachecol a condizer. A vida a fervilhar nas esplanadas dos cafés mesmo quando o frio congela qualquer palavra saída das bocas mornas que ali se juntam para discutir tudo o que há para discutir... Era a cidade em si. E assim deveria ser com as pessoas.
Diria que me acontece o mesmo com o amor. Por vezes, não sei muito bem ao que vou. Sei apenas que vou. Que já lá estou e o que me faz ir. Não concebo o amor de outro modo. Como sendo outra coisa que não o puro desejo em carne viva de estar com alguém. Não é um compromisso que me prende. Nem tão pouco a evidência do peso das suas qualidades ou das compatibilidades observadas. O que me faz estar, diria eu, é perceber que a alma está cheia. Como em Paris. É saber que estou porque quero estar... a 100%. Porque me sinto livre ao estar e simultaneamente presa ao que me faz feliz. Porque faz sentido que eu esteja. Amar é estar. Ou melhor, torna-se numa arte de saber estar. Por inteiro e sem depender de compromissos. Sem horários e sem constrangimentos. Sem pressas. É sentir que, ao desejar partilhar algo, aquela pessoa será a primeira de quem me irei lembrar e com quem o farei. Porque é a pessoa em si que me faz amá-la. Nos seus gestos e expressões que vestem tão bem tudo aquilo que vive suspenso dentro dela. É o sentimento que me faz estar. E o amor deveria ser isso. O pleno exercício da liberdade a par com o desenvolvimento harmonioso daquilo que nos faz ser melhores e únicos. Mesmo que esse crescimento implique, um dia, não estar.






9 Comments:
Marienbad
Voltou a neve! Bom dia!
não acrescentaria nada a este conceito de Amar/Amor,pq percebo-o na integra e tb pq só o sei viver dessa forma; o desafio é o de sempre, o encontro perfeito ainda q por tempo indefinido,
:)
Não resisto a perguntar, M., em que recanto de Paris deixaste aquele pedaço?... É que, bem sabes, é um pedaço tão grande que tenho de me lembrar, um dia quando lá for, de caminhar com cuidado redobrado... para não tropeçar em ti perdida numa qualquer ruela...
Beijos, M., muitos
Ps.: Sabes, M.zita... Paris faz os teus olhos brilharem de maneira diferente de quando amas... quase de adivinham as luzes imensas daquela cidade no teu olhar... é... aquele pedaço que te preenche de forma inigualável...
Não consigo dizer mais nada, está tudo dito,tanto amor, tanto sentimento, tanta vida...toujours Paris.
Bj
Samartaime
Obrigada. E voltou sim. Já tinha saudades da 'neve-tempo' a pousar desta forma. :)
um abraço
RV
Belíssimo desafio esse... e quando é e há encontro, não há palavras.
um abraço
Mc
Dizes bem afilhadita... foi um grande grande pedaço! E não te preocupes... eu lembro-te. Pode ser que me tragas uma pequenina parte. ;)
Ps: ... só mesmo tu para dizeres uma coisa dessas. Mas a verdade é que essas luzes vivem no meu olhar porque simplesmente Paris não me desilude.
Beijos, muitos, muitos
Mots
:)))
nem sei que dizer.
Beijos
Paris... a rainha das capitais... a cidade de todas as energias e de todos os amores... Nela se encontra sempre um motivo para se gostar muito, para se amar ... com muita, muita energia ... mesmo que seja só a de contemplar. Gostei! Parabéns pelo teu sentir.
Énergie
Obrigada pelas amáveis palavras.
E sim, Paris tem uma energia muito especial. :)
Subscrevo a cem por cento.
Bjs
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