Da ausência...

Geoffroy Demarquet

Sonho com o dia em que consiga empacotar todos os sentimentos que me constituem e poder devolvê-los a quem um dia se lembrou de os deixar à minha porta. Com o dia em que tudo ficará vazio e que à conta de tanto espaço em mim, qualquer equívoco, engano ou desilusão consiga ouvir o seu próprio eco ao cair redondo no chão frio. Porque já não habitarei lá.
Tranquei a porta. Tranquei-a a quem se atrever a procurar-me para exigir de mim o que não exige de si. Para esperar de mim o que não consegue dar. Para ouvir de mim o que não consegue dizer. Tranquei a porta a qualquer vento ou brisa... porque a diferença já não é muita. Cansei-me. De esperar. De dar oportunidade quando não a recebo. Encerrei janelas e portas para que não entre barulho ou pó. Tapei os móveis para não se ver o desperdício... E ao fechar a porta, atrás de mim deixei tudo o que aos outros parecia certo e seguro de encontrarem.

Se tocarem à porta e houver silêncio...
Se por acaso a porta estiver entreaberta e a casa vazia...
É porque parti.
Como todas as partidas repentinas onde não há lugar para despedidas.