16.1.08

Das contas...

Sim. Gostava de ti. Eras-me útil nos jantares em que a aparência conta mais que o inconveniente sentimento que traduz a realidade da minha vida. Levava-te para todo o lado para evitar ouvir os pensamentos a zumbirem-me na mente cansada e já esgotada de tanta subtracção. Convenci-me que a vida não precisa de parcelas a somarem espaços e afectos com multiplicação de obrigações. Somei amigos para me entreterem o tempo dividindo por eles afectos desinteressados que não exigem explicações nem encargos. E descobri-me a somar-te. A ocupar-te o tempo como se eu fosse a única parcela com quem tivesses de fazer contas. A organizar-te a vida em equações de afectos consentidos que terminariam no teu retorno a significar a multiplicação do meu espaço na tua vida. E lembro-me de como via a vida até então. Como uma constante soma de parcelas que a uma dada altura se transforma em subtracção de privilégios conjugais de divisões arrogantes de espaços e tempos a serem cobrados consoante a multiplicação das dores. E de repente, vem-me à memória uma história que um dia ouvi numa conversa de idosos sentada num banco de jardim quando tentava subtrair à vida as cólicas mentais que tanto me atormentavam. Contava alguém que já não se fazem contas como antigamente. Que a vida noutros tempos se resumia a uma simples conta de somar, e que por vezes degenerava em multiplicação, mas que só a morte tinha o poder de subtrair. Hoje, diziam eles, gosta-se mais de equações e fórmulas várias, com variáveis de todo o tipo à mistura. Apreciam-se mais as excepções que as regras, as novidades e os saldos amorosos.

3 Comments:

Blogger GRAFIS said...

Confesso que neste momento (depois de ler, reler e pensar por uns instantes) sinto uma certa satisfação por ter enveredado pelas “letras” ao invés da matemática, e por preferir contas simples, as de somar e subtrair, às equações, mesmo as de 1.º grau...

16/1/08 22:57  
Anonymous Anónimo said...

O pior de tudo é o desarranjo do conversar: o rio que não corre mais, o banco que não calha, a palavra que esquece.

18/1/08 19:36  
Blogger M. said...

Grafis
... sorriso...
digamos que ser de letras ajuda... talvez na forma de sair das subtracções... porque nunca escapamos às contas.
e quem sabe, se o caminho não passará pela química... literal ou não.

Samartaime
Ou o melhor de tudo... é descobrir que a única unidade interessante é sempre a que prevalece e sobrevive: o eu.

18/1/08 21:20  

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