11.1.08

Da pergunta...


Jorge Casais


Lembro-me de a ver sentada na fragilidade dos seus poucos anos. Os olhos brilhavam pela alegria de mais um ano a juntar aos dedos que mostrava a querer ser gente. Via uma doçura que o tempo havia de embaciar à conta da negritude dos outros. Hoje, via-a de novo. Os seus cabelos longos a caírem-lhe pelos ombros surgiam como muralhas fragéis de uma intimidade defendida a pulso. Espantou-me o seu sorriso largo e aberto ao mesmo tempo que enfrentava as impertinentes perguntas que nos habituámos a ouvir dos outros por já não terem mais para dizer. Admirei-a pelo seu instinto de luta como quem se entrega às feras para de lá trazer mais do que havia levado. Trazia consigo o mistério nas mãos e as respostas nos bolsos prontas a serem servidas a frio. Surpreendeu-me mais vê-la, ao cair da noite, aconchegar-se à mãe como se aquele momento fosse só seu e pedir-lhe: «Mãe, conta-me outra vez como foi quando eu nasci?»
E lembrei-me. Lembrei-me da minha história. Daquela que não mora comigo e que apenas encontro no olhar dos meus pais. Neles, mora aquela parte da história que fui. Que sou e não lembro. E que irei perder no dia em que não lhes puder fazer, também, essa pergunta.

3 Comments:

Blogger Tríade Menor said...

Gostámos_________ do________ blog.

Voltaremos__________.

11/1/08 23:10  
Anonymous Anónimo said...

arrepio...arrepio...sorriso.
És linda tu.
Chavela.

13/1/08 22:47  
Blogger M. said...

Tríade Menor
Obrigada. :o)

Chavela
(... M. corada e de olhinho baixo...)

Muito obrigada pelo carinho...
um sorriso maior ainda

14/1/08 21:26  

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