14.3.07

Do abraço ausente...


Brigitte Carnochan - Crossed Elbows - 1998


Bem sei que já está na hora. Não me empurres porque não tenho pressa. Já sabes o difícil que foi ter-te deixado ir. Deixa-me ficar mais um pouco. E sei que não precisas que eu o diga como era fácil para mim ficar por aqui. Peço-te. Senta-te aqui ao meu lado e deixa-me imaginar que coloco a minha cabeça sobre o teu colo. Que vou fechar os olhos e sentir a tua mão sobre o meu rosto. A sobrevoar os meus cabelos enquanto adormeço ao sabor dos teus gestos. Deixa-me imaginar que continuas a passar com a tua mão sobre a minha nuca e que te vais deitar esperando que eu acorde para a efemeridade e me lembre que todos os momentos são curtos e poucos... Se tu soubesses como foi difícil ver-te a perder as forças em tão poucos meses. Ver os teus olhos ganharem o tamanho imenso da vontade de viver que preenchia o magro espaço que ocupavas agora...
Não me acaricies agora dessa forma... suave... demorada como quem vem sussurrar um pedido. Não me peças para visitar os teus pais. Não tenho coragem para lhes dar agora a força que não tenho. Como os vou encarar sabendo que já não lhes sorrirás mais uma vez? Como ?... Quando nem eu sei o que tinhas guardado para lhes dizer no momento em que a vida te traiu... Não consigo sequer suster-me em pé e fingir que a vida continua. Olho para as tuas roupas e não consigo tocar-lhes. Lembro-me de como cada vestido, cada peça deslizava no teu corpo agora ausente. Sei que é estúpido... mas ainda te sinto por aqui. Não te vejo e finjo que não sei que te sentas ao meu lado ou, por vezes, em cima da secretária a olhar para mim. A tentar dizer-me para cuidar de mim. Para sair. Ver os nossos amigos. Saberás como isso é difícil? Olhá-los e deixar que me abracem? Odeio que o façam e me digam «força!» Como se eles soubessem o bem, a paz que sentia quando te abraçava à noite junto ao meu cansaço feliz. Como se eles conhecessem as dezenas de expressões que tinhas. A tranquilidade que brotava do teu respirar pela manhã. A segurança do teu morno junto à noite trémula de fragilidade. Diz-me... como é estar desse lado? De mim, nada te direi... poupo-te a angústia de saberes o que é não te ter... e tu, como passas sem mim ?

9 Comments:

Blogger Francesca said...

Sei o que é o abraço ausente mas não dessa forma que tão expressamente escreves.

Mas segredo-te: existem coisas que preferia não sentir ou saber.


Deixo-te um sorriso que poderia ser um abraço.

15/3/07 17:10  
Blogger As vossas vizinhas said...

Precious,
assustador, aperta o coração.
Não quero pensar, nem quero ver...prefiro viver ignorante e cega, ou será que assim não vivo?
Não sei mas ...fiquei assustada.
Viz

15/3/07 17:20  
Blogger M. said...

Cacau
Deixo-te um outro segredo: tomara que ninguém soubesse ou sentisse o que é essa 'coisa' de abraços ausentes...

um sorriso morno encostado a um abraço presente :)

Viz
Viverá de outra forma lembrando-se por segundos do que pode perder... a ânsia de viver tudo a cada momento traduzir-se-à num peito cheio de emoções intensas. :)
um abraço

15/3/07 17:47  
Anonymous Anónimo said...

Eu chorei a ler este texto. Solucei. Convulsivamente. Foi a primeira vez que me aconteceu num blog.
Um abraço.

17/3/07 21:53  
Blogger M. said...

Brisa
nem sei o que dizer...
espero que no fim, algum alívio tenha ficado...
um abraço

19/3/07 13:42  
Anonymous Anónimo said...

pior do ke a memória dum abraxo ke já n vem é nunca o ter tido...dói perder mas deve custar mt mais nunca ter tido...exe é d xerteza o pior Inferno...a ternura magoada dum abraxo ausente ou perdido é infinitamente melhor do ke o gelo do nada, da falta de afecto e há mt gente a (sobre)viver no vaxio e no entanto respira

um abraxo presente a ti ke n te conhexo mas onde me reconhexo em alguns textos ke escreves

19/3/07 13:43  
Blogger M. said...

Pikinina
confesso que nem sei responder...
em alguns mora a arrogância da perda injusta... noutros a humildade do que não se perdeu por nunca terem tido...
diria que tudo depende do ângulo pelo qual vemos as coisas.
tremenda... é a sensação constante de se valorizar o que não se tem...
ilusória... é a ideia que alguma vez se 'teve' alguma coisa.

um abraço e obrigada pelas tuas palavras

19/3/07 13:56  
Anonymous Anónimo said...

xim td depende da maneira de encarar a vida e akilo ke ela nos vai dando e tirando...tb axo ke n temos pexoas mas temos afectos, xentimentos, paixões, ternuras agora n te-los xó pra nos protegermos ou pq ximplesmente n nos deixamos tocar pq estamos distantes e frios ixo é ke é pra mim mt mt mt triste...e um desperdixio de vida, mxm ke viver axim doa mais

n tens nd d agradexer, gosto realmente de te ler...jokas

19/3/07 23:44  
Anonymous Anónimo said...

perdão mxm k viver axim doa menos...qd n xe sente n dói nd mas a vida paxa-nos ao lado...

e pronto hj tou insone ( será de xentir mais do ke devia?) e olha deu-me pra ixto :P pra estes lirismos bacocos...deixa lá ke tb podia dar-me pra bem pior rapariga (digo eu pros meus botoes)

JOKAS

20/3/07 01:13  

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