Da omissão...
Bob Snell
Existem palavras que por vezes carregam, sem o saberem, pequenas sombras e que são despejadas a seco perante o nosso olhar. E enquanto as palavras possuem a discrição de se retirarem suavemente no embalo de uma brisa primaveril que se deseja permanente, as sombras repousam no mesmo lugar onde foram largadas. E ficam ali. A desafiar-me o tempo morno da paciência disciplinada e distante. A murmurar o meu nome como se tratasse de uma sedução clandestina e teimosamente insistente na certeza da minha derrota. E quando finalmente as olho, vejo sombras de momentos alheios vividos a custo... ou não, na omissão da sua existência. Queria dar-lhes um sentido. Entender-lhes o sangue... o porquê que perpassa em cada segundo de penumbra. De uma penumbra aprazível pelo sabor que teve e que nunca entenderei. E assumo o meu não saber. Vive-se melhor quando as sombras são mudas. Quando se usa óculos escuros que nos impedem de distinguir tonalidades. Quando se vive uma vida a despejar inconveniências. Vive-se melhor... quando se sabe que o nosso estar aqui é temporário. Que o tempo é preenchido pelas vontades que mudam como o sol dá lugar à chuva mansa. Agora moro aqui. Amanhã... pode ser dia de fazer malas. E a noite, continua a trazer-me a ideia que a omissão continua a enfeitar-se com vestidos de mentira.







3 Comments:
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Se for grande a ousadia, faça o favor de me advertir!
Talvez se viva melhor com as mudanças se conseguirmos aceitar que elas são uma constante...uhm..
Beijo grande
Mudar é bom. Principalmente andar por aí, seja o aí onde for. Sem bagagem, sem dom nem tom que o do momento. E estaremos assim tão disponíveis? Esse o grande desafio: estar disponível, que há sempre um baú às costas de cada um!
Mas também é isso que faz a paisagem ser mais que um bilhete postal ilustrado!
Abraço!
(O «convite» era meu)
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