Da noite...

David Foster - Bruges Lamplight

Já lá vão alguns bons anos que tinha por hábito adormecer ao som do rádio. Uma estação de rádio em especial que fez parte das minhas noites. Aquelas em que o sono parece morar noutro lugar que não o conveniente... Lembro-me de como algumas dessas músicas me tranquilizavam pela noite adentro quando os dias eram preenchidos por adrenalinas difíceis de conter quando nos parece ter a vida toda pela frente. Eram noites de uma segurança tímida e confortável a assumir corpo numa voz que preenchia o ar. De uma calmia sorridente embalada pelas músicas a ganharem espaço por entre livros e frases a guardar no bolso para os dias. Noites de encantamento em que via os meus pensamentos e memórias a ganharem corpo e a dançarem à minha frente. E dançavam rindo da minha tão adulta preocupação. E o que mais me reconfortava, nessas noites, era saber que a cidade tinha um sono tranquilo ritmado por uma vida própria e clandestina. Uma vida feita de alguns silêncios. De ruídos próprios dos afazeres que a mantinham viva. De pessoas que trabalhavam e viviam a par com a solidão de uma cidade vazia. E era nelas que o meu pensamento se aconchegava. E adormecia a sentir como gostaria que sentissem o mesmo que eu: o conforto de uma solidão menos pesada por ser acompanhada pelas ditas músicas que me embalavam.

A elas, um obrigada por manterem viva a cidade enquanto durmo.