Encargos emocionais...

Carla Maio - Foi Assim

Queria dizer-te, agora que os teus olhos andam distraídos

que o tempo de inverno parece viver dentro de mim

para pegares nas tuas coisas, naquelas que foste espalhando pela casa a passos largos com a ternura das emoções e que parecem ter dilatado desde o dia ameno de Primavera em que as trouxeste. Queria pedir-te que empacotasses devidamente as tuas emoções

sim, porque o tempo de inverno não me larga

e as enviasses sem remetente para o México porque foi lá que nos cruzámos num momento vestido a encontro marcado e que tudo começou como se tivéssemos recebido uma prenda a meias de algum Natal esquecido, ou de um aniversário descompensado nas lembranças dos amigos.

e sinto o frio a entranhar-me nos ossos

E podes estar descansada, que eu trato do selo e do envio desde que empacotes tudo e te esqueças de mim

e o vento que fustiga a enregelar-me a alma

e recomeces a tua vida o mais depressa possível para não haver espaço para memórias mornas e exigências de litígio desconfortável. E sim, podes mandar-me a dita conta das indemnizações e encargos emocionais que ficaram por cumprir dessas juras silenciosas que

o raio desse sentimento

chamam de amor parece sussurrar. E promete que me esquecerás

promete com a vontade inteira que existe quando se promete a uma criança

como alguém que contigo se cruzou num tempo e emoções desencontrados que até fazem comichão de tão inoportuno e rídiculo que foi.

promete

Como eu prometerei que serei ausência e silêncio de mim.