22.8.06

Dores de mármore...


Pére-Lachaise



Existem dores que parecem ser feitas de um mármore branco escorregadio com nervos desenhados a um castanho de terra seca desmaiado. Que transpiram uma crueza gelada de pedra que parece durar para a eternidade... quando nem eu sei o que isso é... nem quanto dura. E possuem um olhar de uma quietude que nos vaza de um qualquer sopro de vida que ainda resiste e que não tem por onde se estender. São dores de um saber marcado na pele que a nossa vidinha tem um limite definido. Um prazo que já deixou de caber no tempo em que dizemos com a boca cheia que será um dia... quando de forma egoísta desejamos não ser sobreviventes aos que amamos. Porque existem dores que não se desejam por tão feias que são. E nunca tinha pensado assim. No saber que nada fica do que fui. Que o que agora sei e se vai acumulando pela vida não tem utilidade. Que as coisas que deixo... nada dizem de mim. Que o tempo... o meu tempo perdido ou não foi vivido intensamente para dentro. E que agora... não me cura de morrer. Não adia o momento. Que o muito ou pouco amor que recebi ou dei não atenuam a dor que levo de tudo o que fica. E ninguém saberia dizer que a maior dor é a de não poder continuar a amar... e a respirar aqueles que se acarinham.

E não tenho outra forma de o dizer...

respirem... com urgência...

encham os vossos pulmões desse alguém que tanto amam.

Porque pode não haver tempo...

14 Comments:

Blogger whitesatin said...

...e valerá a pena, todo o amor de uma vida, todo o sofrimento da vida inteira, de encher os pulmões para depois ter de os esvaziar na hora da morte, que é quando tudo o que passou deixa de fazer sentido, acabando por desaparecer no percurso infinito do Tempo?...

22/8/06 22:43  
Anonymous Anónimo said...

jasus, melher... desafio-te a aplicar a beleza numa coisa menos dorida, pois então...

23/8/06 09:15  
Anonymous Anónimo said...

a morte é a única certeza que a vida nos traz.

23/8/06 10:36  
Blogger M. said...

Whitesatin
... quero crer que vale.
como gostaria de crer que é esse amor, esse ar inspirado e transformado em tempo intenso que nos redime dessa certeza que nos persegue...
... e depois de fecharmos os olhos, o sentido morre connosco. não existe sentido fora de nós.

um abraço
P.S. Saudades...

Miss Tangas
tentarei...
por enquanto ainda vou enchendo os meus olhos de mar... depois logo se verá... ;o)
um abraço

A.
certo. mas gostaria que a vida nos trouxesse outras certezas... ainda que flexíveis. :o)

23/8/06 10:59  
Anonymous Anónimo said...

Era simpática alguém ligar um telefone de x em quando...

23/8/06 18:51  
Blogger Francesca said...

Minha querida (agora tem outro gosto tratar-te assim),

este texto...fere os olhos de quem lê, mas é quase impossível por-me na pele de quem escreve.

Espero por outras palavras, mais suas, menos doridas, com mais luz.

beijo-a

23/8/06 18:59  
Anonymous Anónimo said...

Porque pode não haver tempo....gosto muito das tuas palavras.Gosto.

23/8/06 19:07  
Anonymous Anónimo said...

vou respirar fundo!

23/8/06 21:07  
Blogger d. said...

Querida M., precisamos aprender a viver com a certeza da eternidade na impermanência... Beijo grande com saudades!

24/8/06 11:28  
Blogger manhã said...

O que vamos acumulando pela vida é a própria vida, amarga e doce, é assim, não serve para nada senão para nos dar o peso ou a leveza do que somos, a nossa identidade e também ajudou a definir a dos outros, claro.

25/8/06 12:23  
Anonymous Anónimo said...

Sim, respiro e é fogo!

31/8/06 11:34  
Anonymous Anónimo said...

M.ocita...
Peço perdão por irromper assim, sem convite, do meu silêncio...
Mas com tamanhas palavras sobre essa imensa falta de tempo, ocorre-me gritar a plenos pulmões (com o muito ou pouco ar que contenham): "Carpe Diem"...
Ocorre-me, também, dizer, quanto ao muito ou pouco que se deixa de cada um, que é tantas vezes muito mais do que julgamos por estar, tão, contido nos que nos rodeiam sem por isso ser necessária uma estátua de mármore para que se recorde... E, quanto à utilidade do que se vai sabendo pela vida, quantas vezes tem uma importância tão maior do que julgamos para aqueles a quem fomos ensinando sem dar conta... Deixo apenas o conselho de se respirar muito... Mar... Sol... Música... E (re)lembro,também, que se pode encher os pulmões de um amor que não dorme ao nosso lado nem tão pouco nos aquece os pés, mas que tantas vezes nos faz ganhar um sorriso pela simplicidade de não lhe ter mais nada a acrescentar...

Beijo meiguinho
MC (ou "miúda", talvez seja melhor (re)conhecida assim)

Bem sei que o comentário é grande, peço perdão, volto loguinho para o meu silêncio...

2/9/06 22:54  
Blogger M. said...

Cacau
oh meu deus... a menina e o 'querida'...
espero também por palavras menos doridas...
beijos ;o)

Anónimo 2
obrigada :o)

G.
força! e lentamente de preferência ;o)

D.
Saudades...
e fico a pensar... :o)
beijo grande :o)

Manhã
já nem sei o que dizer...
um abraço :o)

Boozinha
ena... é bom 'ouvir-te' assim :o)
beijinhos

Mitro
bem vindo...
é isso mesmo que se deseja! ;o)

Anónimo 3
não costumo distribuir convites para comentarem... ;o)
e não tenho bem a certeza de tudo ter compreendido...
mas aceito o conselho... e tentarei ser humilde nessa simplicidade de nada mais ter a acrescentar...

p.s.: não estou a ver quem será a MC a quem chame de miúda... e que tal mais uma dica... subtil, pode ser.

3/9/06 01:14  
Anonymous Anónimo said...

Bem sei que por aqui não se costumam distribuir convites... Mas, ainda assim, sinto-me a invadir um espaço "precious" demais...
Quanto à MC (é uma pequena introdução para o dia em que serei eu a deixar um convite, que só pode acontecer depois de uma conversa que há muito me foi prometida, para o meu humilissíssimo cantito, que por enquanto está em obras)... Uma pista subtil... Se deixar por aqui um "Angel" em vez de M.ocita, ficará mais fácil?

Beijo
MC

4/9/06 00:16  

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