Da amizade...

A amizade, o amor, eram a meus olhos algo de definitivo, de eterno, e não uma precária aventura. Não queria que o meu futuro me impusesse rupturas: teria de envolver todo o meu passado.

Simone de Beauvoir

Nos últimos dias, dei comigo a pensar sobre este assunto: a amizade. Sobre o que realmente nos liga àqueles a quem damos o nome de amigos. Sobre o que fazemos àqueles que gostamos. Sobre o tempo e o cuidado que lhes disponibilizamos. Sobre o que damos em troca quando recebemos. E à minha volta, vou constatando que existem pessoas que também sofrem... não de amor, mas sim de amizade. Confesso que também já sofri... de amizade. Mas nunca olhei para a minha experiência como ponto de referência para o que eventualmente pudesse acontecer com os outros. Mas agora... encontro-me do lado de fora. Daquele lado feito de penumbra de quem observa os amigos a serem magoados. E não gosto. E confesso que me apetece gritar. Chamar nomes feios a quem merece ouvi-los pelo descuido que têm. Abanar as pessoas na tentativa de as despertar da vida tão concentrada em tudo aquilo... que nem vontade própria ou sentimento tem. Que não passam de meras coisas que desaparecem tal como vieram. Apetece-me dizer-lhes que temos demasiado pouco tempo. Que a vida é feita de outras coisas tão importantes e simples que às vezes fazem um bem que nem imaginam e massajam o coração ajudando-o a defender-se de tantas coisas impróprias. Coisas simples como saber se estão bem. Olhar nos olhos e perceber se as palavras ditas confinam com o que existe dentro do olhar. Oferecer um sorriso quando do outro lado se assiste ao precipitar de uma lágrima. Saber ouvir quando as palavras do outro lado surgem como explosões de estrelas. Acompanhar silêncios quando eles dizem muito mais do que as possíveis palavras que poderiam nascer. E dizer a quem é descuidado(a) ou desatento(a) que fazer sentir alguém 'descartável'... é muito feio.