13.7.06

Bonnard...


André Ostier

Nos últimos tempos de vida, o pintor Pierre Bonnard, então quase com oitenta anos, criou algumas das suas mais vibrantes telas. (...) Naquela idade, (...) só se pode pintar de memória. Nada do que se mostra como pintura em La Terrasse Ensoleillée, sumptuosa demonstração de exuberância cromática, nada daquilo existe realmente no mundo exterior. (...) E, mesmo que a realidade fosse tão diversa e profusa como a que os quadros mostram, é previsível que o olhar cansado do pintor já não fosse capaz de abarcar com tão minucioso sentido do pormenor... O que ali se mostra é o produto de uma visão interior, de uma opção que foge como o diabo da cruz do ton local, que Bonnard evitava acima de todas as coisas. (...) À sua maneira, a maneira de Bonnard impregna a nossa visão das coisas. E o mundo que vemos - ou que imaginamos - é incontestavelmente melhor.

António Mega Ferreira