27.6.06

Não agora...


Maria Baranova
Não me morras agora amor. Não agora quando me vejo a projectar em plantas de papel perfumado cheias de riscos e medições os andares e pilares do nosso amor que nasceu encostado ao teu coração naquele dia de um inverno medonho quando eu nada dele queria saber. Não agora que aprendi o sabor amargo das infidelidades a frio na pressa angustiada dos minutos contados na repetição das sensações furtivas sem sentimento que as sustente e no abandono silencioso e amputado dos sentimentos em casa que ficaram contigo porque não os queria levar comigo. Não me morras agora amor. Não agora que já não sei o que fazer com tanto espaço que me fica dentro de casa se tu te fores e nem sei o que fazer sequer às tuas coisas que ficam e que não têm para onde ir porque se incrustaram às paredes e chão deste espaço que é nosso. Não agora que os meus sentimentos se despentearam violentamente da minúcia milimétrica com que vivi o adiamento pálido de um grande amor que nunca estava onde me encontrava. Não me morras agora amor. Não agora que despertei para o horizonte imenso do teu sorriso que se escondia no suave meio que desenha os teus lábios que acorda em mim a procura acumulada de uma vontade imensa de te sentir em cada centímetro morno da tua pele. Não agora que me sinto a viver com as tuas mãos coladas ao meu rosto mesmo quando adormeces e te beijo suavemente as costas... as costas do meu dessassossego tranquilo que me mostram como é possível pairar sobre um corpo fundindo-se com ele. Não me morras agora. Não agora que o meu corpo adquiriu as medidas do teu e aprendeu o teu aroma como uma música que se entoa nos momentos de maior súplica. Não me morras agora amor. Não agora que vives em mim como uma segunda pele que visto, como carne que me sustenta e como sangue que beijo. Não agora... que desejo morrer primeiro porque nada fiz do tanto que tive.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

sem palavras... espero que tenha muito de mais de literatura do que de realidade assim, crua...obrigada anyway pela sinceridade, é um prazer ler coisas assim.

27/6/06 23:10  
Blogger M. said...

Suspect
obrigada !
de facto, foi uma série fabulosa! diria que foi mesmo a minha primeira série de culto... mas também não era caso para ficares assim! :o)
anima-te!

Chavela
obrigada eu! :o)
por vezes, a crueza é necessária para redefinirmos o essencial...
quanto à literatura vs. realidade... costuma ser esse o segredo, não é verdade ? ;o)

28/6/06 00:31  
Blogger mar said...

bolas, prima!

28/6/06 13:31  
Blogger neva said...

o amor traz ao nosso ser sentimentos e expressões que só quem lá está compreende. A diferença entre ler e sentir é suficiente para não entender simples palavras como estas...

28/6/06 17:48  
Blogger M. said...

Mar
beijos, muitos

Neva
bem vinda :o)
concordo em pleno contigo. no entanto, considero que existem alguns escritores que conseguem diluir essa diferença... :o)

29/6/06 10:49  

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