30.6.06

Da elegância...


Paris é uma cidade cinzenta e chuvosa, mas quando chega a Primavera e as esplanadas se enchem e cantadoras da rua que parecem sair de todos os cantos cantam La Vie en Rose, a cidade converte-se o melhor lugar do mundo para, mesmo que não se queira e se prefira a vida a preto, se poder ser feliz. (...) Foi a primeira vez que me apercebi que talvez o elegante pudesse ser algo diferente do que sempre tinha pensado, o elegante talvez fosse viver na alegria do presente, que é uma maneira de nos sentirmos imortais. (...) Mas naqueles tempos de juventude de Paris eu achava que a alegria era um disparate e uma vulgaridade e, com notável impostura, fingia ler Lautréamont e não parava de importunar os amigos insinuando a todo o momento que o mundo era triste e que não tardaria a suicidar-me, pois só pensava em estar morto. Até que um dia encontrei Severo Sarduy no Closerie des Lilas e perguntou-me o que pensava fazer no sábado à noite. «Matar-me», respondi-lhe. «Então, fica para sexta», disse Sarduy. (Anos depois ouvi Woody Allen dizer o mesmo e fiquei de boca aberta, Sarduy tinha-se-lhe antecipado.)

Enrique Villa-Matas

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bravo. E que todas as pausas sejan assim...;)

29/6/06 23:56  
Blogger M. said...

Chavela
Obrigada! :o)

3/7/06 20:11  

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