Meia-vida de coisa nenhuma...
Ele tinha-me dito que se havia preparado... para a vida inteira.
Para viver de uma forma plena cada centímetro de veludo de um sentimento intenso que saberia que o ultrapassaria... por ser maior que a vida. Para sentir na sua pele a textura de cada emoção que conseguisse tirar-lhe o fôlego do princípio ao fim... e pudesse ele morrer nessa expiração que o vazasse de si mesmo. Preparou-se para calcorrear cada uma das suas dunas feitas de receios acumulados pela vida... e que moravam no seu lado mais silencioso e escuro. Para olhar de frente cada luta suada e perdida em nome do amor... Preparou-se para a imensa fome que teria de querer viver. Para resistir a cada embate de emoções... de uma negrura que o cegaria e o assolaria quando a vontade desfilasse perante o seu olhar... imensa no desejo de desfalecer. Para descobrir uma fragilidade... trémula na força mansa que o sustentaria e que o faria ser o que é. Preparou-se para estar... e ser inteiro num viver que seria breve no tanto que há a ser fora daqui.
Não contava era ter sido ultrapassado pelo sentimento... sem que alguma vez o tivesse vivido em pleno. Ter sentido a falta de fôlego... sem ter sentido a pele morna de cada emoção... e vazado de si, persistir ainda aqui. Ter caminhado no contorno de cada duna... e achar-se perdido no silêncio de cada receio. Ter lutado... sem ter sido por amor. Ter tido fome... de tanto não querer. Ter desfalecido... sem embates de emoções. Ter sido tão forte... numa fragilidade sustentada.
Não contava... dizia-me naquele seu olhar há muito deposto num horizonte que ninguém vê... ter vivido meia-vida de uma vida de coisa nenhuma. Arrastar consigo meia-morte de uma vida inteira no seu olhar... Não contava preparar-se... para o que não chegou a ser.







4 Comments:
...nunca ninguém!
Com tanta preparação o rapaz vai de armadura para encontrar o amor, e dessa forma não há amor que lhe chegue, sequer, a tocar a pele.
Mas sobre a busca do amor… a busca incessante pelo amor… parece-me que por vezes é um pretexto, a perseguição, o amor-objectivo, a ideia do amor.
Ele até pode constituir um fim em si mesmo, mas acaba por se tornar uma miragem, que se persegue, loucamente, cegamente, sem nunca se concretizar.
Temos então um louco, atrás de uma miragem, vestido de uma armadura metálica pesadíssima… ao sol… um louco que nunca está satisfeito porque não se habituou à ideia que o amor não se persegue, constrói-se com os materiais que temos, não se idealiza…improvisa-se. (mas que sei eu?)
Pois este louco, cavaleiro andante, que vai de terra em terra em busca do amor, encontra tantos, mas tantos amores que não se concretizam nunca, que acaba…
Está-se a ver que o fulano acaba frito no meio das dunas (do deserto).
Acho que já destabilizei...
Estou fora do contexto…!?
Este comentário não deve ter nada a ver, mas fica mais um contributo à laia de mau feitio.
BJ SK
nem só de hopper vive uma pessoa... mas tb das tuas palavras....rs
Lu
Poca...
um abraço :o)
Salso
talvez não exista armadura... nem miragem ou demanda. existem somente amores... uns mais diferentes que outros... ou mais plenos no tanto que nos preenchem.
talvez o importante seja mesmo o que não se disse... em voz alta: ... não existe preparação.
um abraço :o)
Lu
ainda bem que não se vive de uma só coisa, mesmo que seja o Hopper.
e muito menos se vive de palavras... :o)
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