Do aroma...

Dido é uma daquelas vozes que possui, para mim, um aroma a verão quente e descontraído... de imagens enevoadas pelo calor onde se sentem cheiros a asfalto quente que se derrete como o tempo que se esfuma dentro do carro na espera doentia que a vida aconteça... assim que se chegar ao destino. Lembra-me visões de pouca roupa a abraçar corpos de uma textura sublinhada aos olhos que se deleitam a sentir o calor que invade cada poro da pele beijada pela brisa ténue que passa de tempos a tempos... Sabe-me a ânsias de estender e passear pelas mãos as horas do dia por entre ruas cheias de gente e conversas ruidosas nas esplanadas junto ao rio que adiam o inevitável: o repouso inquieto e mal dormido numa cama depositada na noite que atravessa o espaço quente a segredar gotas de suor e a instigar às voltas constantes. Tem o sabor a mudanças de malas feitas na pressa dos abandonos onde fica sempre o que não pensamos deixar e onde se aprende a amar de costas voltadas aqueles que deixamos... a golpes de ar forçados que vivem entre os intervalos das quedas de gotas saídas de um olhar que procura temperaturas amenas para adormecer sentimentos e espaços planos e geométricos que oferecem a precisão matemática do que se espera sem surpresas. Lembra-me a cascatas de pensamentos fluidos que pairam na superfície das melodias que acompanham a voz e sabem a uma liberdade conquistada no apego à velocidade da estrada e ao vento que fustiga cabelos como quem beija por desejo violento... Dido, sabe-me a uma leveza própria de quem abandona a vida por ser o lugar impróprio para se viver na velocidade excessiva das horas que passam e dos segundos que estacam vidas ao mesmo tempo que as beija...