5.2.06

Do peso...


Christian Coigny - Women in Studio - 56


Existem dias assim... de uma lassidão pesada em que o silêncio parece engolir-me inteira. E nem o murmúrio da música mais suave consegue embalar e adormecer-me. São dias parados. Dias inteiros em que as cortinas cerram a entrada da luz do dia. São dias confusos, de um frio imenso em que me descubro a visitar lugares a que raramente vou... pela paz muda e inquietante que têm e que estendem pelo espaço todo o tempo que não tenho. Hoje, precisei de lembrar-me daqueles que a vida me levou. De chorar emoções mudas por aqueles que me amaram. De gritar silêncios pelo tempo que lhes ocupei... e que foi quase nenhum. Precisei de lembrar-me dos mortos que transporto em mim... em contentores selados com aviso de lixo tóxico e que me seguem para onde vou. Dos sentimentos de outrora que jazem como flores secas e mortas a transbordar do lixo que mora à entrada deste lugar.
Precisei de descobrir-me... na fugacidade inalterável que o tempo me cospe nos segundos, minutos e dias que se sucedem. De lembrar-me que não posso emprestar, nem alugar este tempo, este corpo e nem a minha vida a alguém. De saber que vivo nos intervalos incómodos entre palavras e emoções. Que moro no desencontro amargo entre as pessoas e as suas vidas... Precisei de saber que não tenho tempo. Precisei apenas de saber-me viva.