Noite...
Saí... já quando a noite alta se insinuava de forma demasiado intensa na minha pele como um calor que nasce de dentro... e quando o silêncio me pesava no peito ao ponto de me sufocar. Saí... e fui à procura de mim. Procurei-me por entre o frio e o escuro das ruas desertas... e acompanhei-me nos movimentos lentos do meu corpo embriagado pela necessidade de me encontrar. E por onde andei, fui recolhendo pedaços de mim... que não sabia perdidos. Encontrei-me por entre pensamentos adormecidos no aconchego terno das vozes e sons da noite que me rodeavam... flutuando perdida por entre imagens em grande plano de lábios finos e carnudos sequiosos de pele, de olhares sombrios e perdidos esmagados pela solidão, outros olhos já mais quentes e tímidos vencidos pela desistência da fé, por entre rostos mil e mãos ansiosas de carinho... e sobrevoo à superfície do alcóol... já quando o corpo se encontra debaixo da fadiga dos meus dias e da dormência do meu pensar... e fujo do desespero de sentir que já não tenho tempo... e o pouco tempo que tenho não é meu.
E sigo... porque não é aqui que quero ficar. Porque os poucos pedaços que fui encontrando nessa demanda alquímica pela noite... ensinaram-me que o tempo que vivi não é nem nunca foi meu... Que esse tempo pertence à galeria das memórias de outros... daqueles que um dia por mim passaram... E que todas as vivências e emoções pousaram em mim... entrincheiradas nas fendas mais profundas e sulcos mais escondidos do meu ser... e são essas emoções que agora se guerreiam no meio da arena pálida do meu silêncio.







8 Comments:
Muito bonito o texto. No entanto tendo a discordar de uma coisa. No meio da embriaguês das palavras diz-se (citando): que « o tempo que vivi não é, nem nunca foi meu... esse tempo pertence á galeria das memórias dos outros..».
O tempo é nosso, pertence á galeria das nossas memórias. Será sempre nosso!!
A não ser que te tenhas transformado num ser «alado» e te estejas a (re)ver de longe e do alto ;)
beijos da Princesa e tem uma boa semana
mais uma vez... perdi-me a ler. muito bonito.
e quanto ao tempo, nosso, acaba por ser em grande parte a memória que os outros têm de nós. porque é aí que o tempo que fabricamos encontra uma casa para habitar. pelo menos foi um dos pontos que assimilei. :)
tem um dia bom, aproveita o sol que espreita por entre as nuvens. :)
beijinhos ~**
"Não sou de aqui, nem de agora!"
M.,
Voltaste! :)
Cada pessoa que passa por nós deixa um pouco de si e leva um pouco de nós...e é com esses pedaços que nos construímos..:)
Beijinhos!
Acho que todos nós nos perdemos de vez em quando. Perdemos muito do que éramos e deixamos de nos reconhecer. Já nada se identifica connosco, nada do que conhecíamos, a forma que vivíamos… as rotinas mudam e a vida sai do sitio.
Deve ser por isso que sentimos que a memória e o tempo que passou não é mais nosso. Embora por vezes também criem golpes na pele tão dolorosos, que preferimos esquece-los. Não nos pertencendo por inteiro, não conseguimos vive-los pela metade. Deixam de ser os mesmos. É estranho.
Mas tem de haver tempo. Tempo para nos reconstruirmos. E haverá sempre tempo para nos reinventarmos, surpreendermos, contando que o que realmente importa é a intensidade com que vivemos e não a quantidade das horas...
BJ GR
SK
Princesa :o)
bem que eu gostaria de ser um anjito! ;o)
eu sei que o tempo é nosso... mas gostaria que algum desse tempo não fosse só meu, mas apenas dos outros.
beijos e um bom fim de semana :o)
Omlounge
nem sempre encontramos uma casa para habitar... nem sempre estaremos certos se seremos memória de alguém.
um beijinho fofinho
Lemon :o)
é exactamente isso !!!
mts, mts beijos
A. :o)
digo-te as mesmas palavras que disse à Omlounge, pode ser ?
beijinhos
Pilantra
que posso dizer?... de facto, a arte do 'acrescento' é diferente em todos nós... e mesmo aquilo que se vai acrescentando.
Um abraço
Out
diria o mesmo: Voltaste !!!
beijinhos
Boozinha :o)
obrigado... e está quase, ainda estou no inventário das baixas! ;o)
obrigado pela música e vou tentar soprar nesse espírito...
um abraço fofinho e mts beijinhos
Indigo
é esse pouco que levam... que eu gostaria que ficasse.
beijinhos
Salsolakali
obrigado pelas tuas palavras... e realmente a 'vida sai do sítio'. Não somos o que éramos e o que éramos magoa ao ponto de não querer vivenciar o que foi... mas que digo eu?... já disseste tudo!
BJ GR e FF
Não tens que agradecer. Há certas coisas que são "universais".
Mas não te detenhas muito com essas coisas. Eu sei que não é fácil e que parece não ser possível, mas há que ir forçando. Melhor.
Ir arrumando a vida, se quiseres.
Beijo grande Miss M.
;)
SK
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