Almas de vidro...

Christian Coigny

Meu amor, deixa-me olhar... para o teu rosto iluminado quando repousas... para o teu jeito de menina insegura que esconde o rosto por detrás das palmas das mãos fugindo da claridade... Deixa-me sentir... essa lassidão suave dos teus movimentos que se dirigem a mim quando toda tu ainda estás meia-adormecida... essa tranquilidade suave que o teu corpo possui quando o tempo te oferece mais um dia... Queria sentir essa tua paz íntima em que repousas e que te torna tão simplesmente bela aos meus olhos quando despertas... Deixa-me dizer-te como sinto saudades tuas durante a noite... e durante o tempo em que não me abraças... como é que toda a minha pele chora pelo calor da tua... como gosto de sentir esse teu morno e guardá-lo em mim até ao teu regresso no final do dia... para me encher de novo de ti. Deixa-me repousar... agora nessa morna segurança da tua alma antes que o mundo te desperte e te leve de mim...

Meu anjo... acredita que não quero amar-te nesse desassossego ansioso do fim... nessa ânsia fugaz de um desejo intenso e trémulo que calca suavemente o sentimento... e vê se me entendes... não quero amar-te apenas por um momento. Talvez aquele em que tudo em nós aflora à pele... simplesmente porque não quero perder-me em mim e cuidar levianamente qualquer segundo do teu sentir. Não quero abandonar-te nesse momento em que toda a tua pele e alma se confundem... Não desejo sequer que a tua alma... seja apenas mais uma alma de vidro perdida no mundo e que de tão pouco cuidada se torna demasiado frágil e se parta... nem eu junto de ti desejo ser uma...

Quero amar-te sim... na descoberta inocente do espanto e da timidez do início... na ansiedade controlada de quem aprendeu a amar à distância, de quem aprendeu a viver cada momento como uma dádiva. Quero ter todo o meu tempo unido ao tempo do mundo... para que me possa demorar na tua pele... e descobrir nela todos os sentires que te habitam... todos os sonhos que te povoam a alma... todos os segredos e cicatrizes que o teu sangue esconde... queria apenas que toda a tua pele sentisse a minha e que nela encontrasse fortuitamente a minha alma...