Uma carta que não recebi...
Ao ver a chuva cair sinto que esta me pára o tempo... e obriga-me a reviver... de um modo inesperado e amargo um filme feito de memórias. E sem que eu queira... a tua memória aflora à minha pele... como um desejo reprimido que há muitos anos tentei esquecer. E sim... confesso agora, ao fim de tanto tempo, que é verdade que desisti de ti... talvez um pouco antes de ter desistido daquilo que me unia a ti... e eu simplesmente não soube como dizer-te. Não queria dizer-to. Só a certeza de que os teus olhos me diriam que continuavas a amar-me com a mesma intensidade do ínicio dos tempos em que nos encontrámos... em que sonhámos uma vida feita de pequenas coisas... que eram tão poucas mas que nos prendiam tanto uma à outra... A certeza de que os teus lábios me sussurrariam que o teu amor compensaria a falta do meu. Não queria que me amasses mais... e tanto. Queria que me esquecesses. Queria tanto que sentisses que em mim o nosso tempo já havia terminado. Queria que amasses outra pessoa... e que a minha presença na tua vida fosse apenas uma brisa de outono. Mas tu... amavas-me e esse era o meu castigo. Irritavas-me... porque não vias uma verdade que tentei dizer-te nos meus silêncios... nas minhas ausências... nos meus enfados... e foi aí que um dia me ter tornei insensível à tua pessoa, à tua presença. E foi nesse momento que me tornei egoísta perante uma dor que não era minha. Foi nesse momento que fui cobarde perante uma verdade que precisava de ser dita... e não disse. Foi nesse dia que cometi um erro... como se fosse uma recaída consentida num vício antigo e curado que deixamos emergir para afirmar que ele ainda existe em nós. E errei...com a mesma facilidade com que cheguei a casa e retomei todos os meus hábitos... e sim... foi nessa derrota mansa e muda que consenti em esquecer-te. Tentei amar-te... em vão... e por pouco tempo confesso. Tentei amar-te naquele espaço silencioso das memórias de um tempo em que eu sei... talvez que te amei... naquele intervalo incómodo de uma cobrança que eu sentia que vinha de ti. E sim...admito que me enganei... julguei que era amor... e quando soube que nada mais era do que um momento de magia, um momento de um deslumbre tal que não consegui viver com ele... não soube dizer-to. Nem soube libertar-te de mim.
Perdoa-me... pelos sonhos que te dei através do meu olhar. Pela cobardia de não te ter dito que acabou. Pelo silêncio frio e vazio em que te abandonei. Pelas dores das meias verdades que para ti eram ondas inteiras de esperança. Perdoa-me por não te ter amado nem respeitado nesta parte do fim. Por te ter causado uma dor... que eu sei porque te conheço tão bem... que te vai dilacerar para o resto da vida. Sei que vais andar perdida... que vais desaparecer do mundo porque vais em busca dos porquês... mas sei que um dia... tu voltarás. E vais voltar a viver com uma energia diferente... talvez menos crente. Perdoa-me por guardares de mim... apenas a memória do fim.
Setembro de 2004







14 Comments:
Pronto, Querida, eu envio-ta! ;-)
Às vezes, também don´t wanna talk about it! - é um direit que nos assiste, ora essa!
Beijos (mágicos, talvez)!
Querida Lemon :o)
enche-me a carta só com esses beijos 'mágicos' ;o)...
Beijos para as duas... mts, mts!!!
Aposto que a culpa é dos correios!... :)
Trabalhas lá, Sotavento? ...
'Tá bem! (limão cúmplice)
Esta do "'tá bem (limão qq coisa)", não era p'ra aqui! É para outro sítio! - é o blogger que anda louco, não sou eu!
lindo...
No meio de muitas coisas que por vezes leio por aqui, marcas sempre a diferença.
Hoje para azar o meu acertas-te em cheio. Parecia que estava a ler algo que alguém me deveria ter dito.
Deixo-te os meus parabéns e a indiscrição de te dizer que me fizes-te chorar.
Um beijo
Há silencios que dizem muito.
E é preciso coragem para ler neles o que não queremos ouvir.. ainda que digamos que sim.
Não sei se o amor nos cega mas o tempo encarrega-se de tornar tudo mais claro e menos doloroso... felizmente.
Sea
SomenteUma
direi que foram sentimentos muito confusos sim... e durante tempo demais. saudade... já não tenho. e o pensamento deveria ter sido partilhado sim.
um abraço
Sotaventinho...
ou isso ou a falta de selo! ;o)
beijinhos
Dona Lemon
mais beijinhos...
obrigado lu
Anónimo(a)
lamento a 'indiscrição' que cometi... e sim, aprendi que por mais que nos custe ouvir... ou dizer o 'não'... é preciso que seja sempre dito.
Sea
se o amor nos cega... hummm, por vezes penso que somos nós que nos deixamos cegar... e às vezes o tempo da claridade demora a chegar.
saravah senhora M.!!!!!!!!!!!!!
eu cá só uso e-mail e mesmo assim atraso-me (será sintomático?)
:) ;)
Miss M.,
Mais uma vez Edward Hopper!! Fantástico!!
Mais uma vez speechless!!!
Bjs!
Bem...que queres que te diga? Que quando entro nas tuas palavras sinto-as como minhas porque talvez num tempo também foram?
...como uma vez me disseram...inefável....
Beijo grande
Miss Tangas...
realmente como me pude esquecer do meilizito???
um abraço
Miss Choco...
saudades!!!
mts, mts beijos !
Cacau
era tão bom que não tivessemos de 'emprestar' estas palavras!!
um abraço fofinho
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