Um amor maior...

Ross Taylor
Existem imagens que me atingem de um modo especial... e uma delas é a imagem enternecedora de dois idosos que se acompanham... E quando os vejo, ele vai segurando-a pelo braço porque assim torna mais suave o seu andar... e embala a sua fragilidade. Vejo-o a apoiar-se nela porque a agilidade de outros tempos se foi esvanecendo na penumbra dos dias felizes. Vejo-a, à hora das refeições, a tirar da sua malinha a caixinha dos remédios para ele tomar... a limpar-lhe a boca com um guardanapo porque a mobilidade dos seus braços já se tornou mais lenta e detém agora a mesma lassidão com que o sol se põe ao fim do dia.
Vejo os seus corpos ajustados um ao outro em cada contorno meigo, em cada prega... mais carregada pelo tempo, em cada gesto contido de atenção ao outro... vejo as suas almas brilharem em cada emoção e sentimento vivido... em cada olhar com que se abraçam. Vejo os caminhos com que trilharam cada momento das suas vidas, cada fotografia carregada de histórias e pormenores que embelezam aquele momento. E vejo a casa em que vivem... cada divisão plena de um aroma indescritível onde se ouvem os passos de cada um. Sinto a presença de ambos... de forma enevoada mas plena... em que um já nada é sem o outro. E vislumbro... que mesmo quando os corpos parecem envelhecer... deles emana uma ternura imensa, um amor que aumenta ao mesmo tempo que as suas fragilidades. E neles... o amor é maior que o tempo.
E descubro o quanto isso me assusta... descobrir que se ama e que se vive com alguém há mais tempo do que quando éramos sós... e sinto que é possível morrer-se de amor... não de um amor demasiado... mas da dor de uma ausência maior.






9 Comments:
M.,
E lá vou eu pensar mais um pouco ...
"e sinto que é possível morrer-se de amor ... não de um amor demasiado ... mas da dor de uma ausência maior."
esta frase ficou-me pela dor nela contida, mas até que ponto morremos de amor? ... não seremos etern@s sobreviventes? ... não iremos antes ficando com feridas que lentamente cicatrizam?! ... fica-me a dúvida ... podemos esmorecer, desleixar aspectos profissionais, tornar-nos anti-sociais, mas com o passar do tempo, com a nossa contínua capacidade de nos apaixonarmos por algo ou alguém, não sobreviveremos e continuaremos a nossa "busca" da felicidade?! ...
Eu ia comentar aqui que é precisamente essa imagem que me faz acreditar no Amor e na sua força... mas depois do comentário da senhora que assinou como "Chocolover" - mas que não é a nossa de certeza, que estava tudo tão sério e tão certo e tão profundo - fico-me cheia de reticências a admirar as palavras dela e a sair de fininho!
Não sei se estou a ver mal mas parece-me que a M. e a Chocolover estão a falar de coisas diferentes!...
Acho que têm ambas razão, nos diferentes casos que estão a expor.
E, M., o meu tio Manuel morreu de amor, desse, dessa ausência tipo percipício, depois de uma vida inteira, só aguentou uma semana e nem sequer estava doente!... :|
(posso?...perdoada?)
M.,
Vejo que estás de volta...e como não poderia deixar de ser,de uma forma excelente.
Quero dizer-te que, há uma ou outra passagem que me afagam,que me fazem acreditar no amor e que é ele que nos alimenta o fogo da vida...
"um amor que aumenta ao mesmo tempo que as suas fragilidades."- é simplesmente delicioso.
beijo
Eu acredito que se pode morrer de amor.
E não falo de morrer de ausência de amor (que tb acho possível), mas "morrer" por o Amor ser tão grande, tão maior que nós que nem o corpo, nem a alma o podem conter...
Acredito - e Deus me permita acreditar sempre! - que os meus Amores viverão "até à Eternidade", no ar que respiramos, na terra que pisamos, nos mares em que nos banhamos, nos céus em que voamos!
Choco :o)
Concordo com a Sotavento... estamos a falar de coisas diferentes. E sim, também concordo contigo, quem busca a felicidade tem de ser um sobrevivente que arrisca sempre... apesar de todas as cicatrizes, de todas as mágoas. Só quem desiste de si mesmo... deixará de ser um sobrevivente.
Beijos preciosos para uma dama achocolatada ;o)
Assumida
Que seria de nós se não acreditássemos no amor ? ;o)
Beijos
Sotavento e Boo
meninas, vocês leram os meus pensamentos :o)
Beijinhos
Out
e sim, podes. estás mais que perdoada! Gosto de te ler por aqui ;o)
obrigada pelas tuas palavras...
beijo precioso
Scorpio
Também acredito que se pode morrer de amor... mas quero acreditar mais ainda que se pode voltar a ser feliz! ;o)
um abraço
Lemon
desconfio que o 'acreditar' é já uma porta entreaberta para a felicidade... não deixes de acreditar, nem me deixes deixar-te desacreditar...
um beijo fofinho precioso para ti :o)
Ainda estou a recuperar de toda esta leitura comovente...(M, M &I a limpar lagrimita no canto do olho)... Iniciada pelo post da M. e que se prolongou até ao final de todos os comentários aki presentes...:)
Nada mais vou acrescentar porque tudo foi dito...;)
Resta-me apenas esperar que possa vir a viver e/ou desfrutar desse "(...) amor que aumenta ao mesmo tempo que as suas fragilidades. (...) o amor é maior que o tempo"
Bjos.
Chega um tempo em que não há mesmo mais tempo. Aí o melhor é desistir depressa. Que a ausência não vai ter fim, nem a dor.
Parece insensibilidade mas não é. Apenas não faz mais sentido.
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