21.7.05

Pequenas coisas...

Martin Dernier

E de repente, em fúria surgiu em mim o motivo pelo qual parti. Parti. E não quero aceitar que fui eu que parti. Parti porque te amava. Amava-te demasiado para estar contigo. Para estar contigo e ver-te infeliz. Não agora. Mas depois. Quando um dia mais tarde, não ousares olhar nos meus olhos e anunciares a tristeza... a profunda solidão de uma felicidade que necessita de se balançar a si mesma para se confortar. Que tinha eu para te oferecer ?
Queria poder-te oferecer aquela felicidade enternecedora de uma vida inteira. De uma vida inteira depositada com suavidade nas pequenas coisas de todos os nossos dias. E eu oferecia aquilo que podia. Pequeníssimas coisas que eram apenas um pequeno sinal do meu sentir por ti. E tu merecias mais. Muito mais. Eu desejava poder dar-te o pôr-do-sol suspenso no tempo. Oferecer-te a lua altiva e o seu brilho intenso, conseguir guardar o som das ondas num pequeno frasco e dar-te juntamente com uma flor que, em vez de morrer nas nossas mãos, renasceria inteira com todo o seu querer para a vida.
Desejava tanto ver-te. Ver-te ao longe e não me veres. De sentir-te feliz. Uma felicidade que não soube oferecer-te. Longe de mim. Onde estarás a salvo. Queria despedir-me. Pela última vez. Uma última vez mesmo para todas as últimas vezes em que me despedi de ti... e de mim em ti.

18 Comments:

Blogger AlmaAzul said...

O meu silêncio é completo...aqui agora ao ler-te...É como um espelho.

21/7/05 01:59  
Anonymous Anónimo said...

toda a gente acha que merece mais - esse é o fundamento da tristeza: valorizar o que não se tem e menosprezar todas as pequenas coisas que se tem.
o texto é sentido, dolorido, mas bonito. às vezes não temos mesmo como fugir à beleza da tristeza, pois não?

21/7/05 08:37  
Blogger Chocolover said...

M., mais uma vez, puseste-me a pensar ...

E não é suficiente a nossa entrega incondicional, abandonada e total? Não é suficiente olharmos nos olhos e vermos o nosso próprio amor reflectido? ... não é o amor um conjunto de pequeníssimas coisas, qual construção que se edifica e estrutura diariamente? Sim, eu sei que quando amamos gostaríamos de alcançar a lua, o sol, o mar para podermos dizer: são teus! Mas, quando nos entregamos sem reservas, sem condicionalismos, sem períodos e espaços definidos não estamos a dar o bem mais precioso de todos, nós própri@s?...

21/7/05 11:34  
Blogger M. said...

AlmaAzul
e já que falamos de espelho... agrada-te o que nele vês?

Miss Tangas
Nem sempre a tristeza tem a sua origem no menosprezar o que se tem... quantas vezes não nasce ela do pouco valor que nos é dado ?

Querida Choco
agora deixaste-me tu a pensar... dir-te-ei depois quais foram as minhas ruminações...
Um beijo

21/7/05 15:23  
Blogger AlmaAzul said...

Há beleza, mesmo que por vezes tenha de ser a "beleza da tristeza".
E a beleza sempre me agrada. :)
*azul

21/7/05 15:41  
Blogger M. said...

Estamos de acordo AlmaAzul... ;o)

21/7/05 15:45  
Blogger mar said...

m., (...)
na sei que dizer... apenas um beijo grande nessa testa.

21/7/05 15:56  
Blogger mar said...

m., (...)
na sei que dizer... apenas um beijo grande nessa testa.

21/7/05 15:56  
Blogger Chocolover said...

mar, tás com dislexia teclal?!... LOL

M., ruminemos então! Bjs!

21/7/05 16:18  
Blogger M. said...

Marrrrrrrrrrrrrrr
um beijo de chocolate nessa testa ;o)

21/7/05 16:53  
Blogger Chocolover said...

"um beijo de chocolate", ai o caneco!!!! Bem ... isto agora já vai assim, utiliza-se e não se pede licença, hein?!

21/7/05 17:23  
Anonymous Anónimo said...

Todos os dias partimos...
Partimos em direcção a um novo amanhecer, porque todos os dias eu sei que há um amanhecer...

Todos os dias nos despedimos...
Nos despedimos daquela tarde suada e cansada, porque todos os dias eu sei que uma tarde fica para trás...

E todos os dias parto, porque creio que lá chegarei!
E todos os dias me despeço, porque anseio voltar a encontrar!

E todos os dias desejo o poder registar todas essas pequenas "coisas", todos esses "tão grande nadas" que um dia partirão comigo, porque talvez não se queiram despedir de mim!

21/7/05 19:02  
Blogger M. said...

Miss Choco
por favor, perdoe-me esta ousadia (tah...tah...tah... M. a autoflagelar-se). Tem toda a razão, não mereço a sua companhia... ai de mimmmmmm

21/7/05 19:21  
Blogger M. said...

Miss Lemon
a menina surpreende-me... de tão susugadita... emerge do nada e vai que diz umas coisas que só me fazem dizer disparates... a menina deixa-me nervosa !

21/7/05 19:24  
Blogger Mente Assumida said...

A imagens utilizadas quer pela Chocolover, quer pela LemonTea sintetizam o que eu ia dizer (são as vantagens da experiência, bem sei, bem sei! ;)).

Todo o meu tempo pode não ser tão belo como a lua, tão arrebatador como o mar ou tão perfumado como uma flor, mas é genuíno e, acima de tudo, é único. O nosso tempo, a nossa atenção, valem mais do que tudo o que de material possamos oferecer ao "object of our afection". Ninguém merece mais do que isso.

O que tortura, de facto, na despedida, é olhar para trás e ver que aquela tarde preciosa já passou, e então a despedida é dolorosa. Mas ela é necessária para que nasça um novo amanhã e esse amanhã será novamente especial, enternecedor... e então vale a pena despedirmo-nos para nos reencontrarmos. Não achas, querida M.?

Um beijo.

22/7/05 13:55  
Blogger nina rizzi said...

adorei o texto.. e foi muito bom conhecer um outro baú... cheio de coisas que tenho e coisas que não tenho... cheio de beleza, poesia e dor...

22/7/05 16:23  
Blogger M. said...

Queridas Lemon, Choco e Mente
obrigado por me recordarem aquilo que é essencial... e Mente... é isso mesmo que procuro: o reencontro comigo mesma...
Um beijo a todas

22/7/05 18:23  
Blogger M. said...

Nina
bemvinda... mas esperemos que não seja um baú de tanta dor...

22/7/05 18:26  

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