26.7.05

O teu livro...


imagem retirada do Google e adaptada por M.
Encerrada agora nesta sala imensa, de paredes brancas e nuas de qualquer decoração, mas cheia de recordações ternas e mornas de um sentir, um candeeiro no canto do quarto ilumina a escuridão profunda que existe em mim. Junto à janela uma cadeira com um livro aberto e abandonado. É nele que agora o meu olhar se concentra e se perde nas memórias que dele emanam.
A brusquidão de um gesto, a frieza de um olher, o volume alto de um sentimento de raiva preso nas teias de uma linguagem verbal, o aperto violento de um braço, o volume de sentimentos confusos cada vez mais alto, o barulho contínuo de objectos a cair no chão. E de repente, o silêncio ensurdecedor de uma separação sem retorno. De novo, a profunda frieza do teu olher, a imensidão de uma distância que entre nós se interpôs... e a fragilidade de um terno desejo que ficou por se cumprir.
Um casaco preto, umas chaves no bolso direito, o barulho de uma porta que hesitantemente se fecha. O som de passos apressados a desceram as escadas e o barulho de uma porta a abrir-se. A violência de um nome suspenso no ar, e de novo... a instalação fria do silêncio absoluto.
Deixa-me ir. Preciso de andar. Preciso de caminhar por entre ruas cinzentas e molhadas, desertas de pessoas. Preciso de esgotar esta tristeza profunda, fria e vazia... que me anula num completo abandono ao meu corpo. Ao meu corpo que agora comanda mecanicamente todos os meus gestos... E curiosamente, é nestes momentos de fuga que a tua imagem regressa com maior intensidade... quantos pedaços de mim não perdi em cada momento que fechava a porta e saía para a rua em busca de um caminhar contínuo e sem rumo... caminhava horas a fio até conseguir adormecer essa dor... E depois. Depois regresso a casa... onde encontro o que restou de ti... um livro apenas.

9 Comments:

Blogger manhã said...

As separações quando estão a acontecer são qualquer coisa contra natura mas há algo em nós que as faz acontecer, elas não acontecem por acaso.

27/7/05 11:50  
Blogger AlmaAzul said...

...mais uma vez um espelho.
Essa forma de colocar os sentimentos em letras... brilhante!
***azuis

27/7/05 15:22  
Blogger M. said...

Manhã...
sim, é verdade que há algo em nós que as provoca, e se acontecem... talvez não sejam tão contra-natura... talvez nos preparem para o que vem a seguir.

AlmaAzul
:o)... obrigado... quase diria que já sei o que te vou oferecer nos anos... ;o)

27/7/05 23:23  
Anonymous Anónimo said...

o livro é lindo - não é simplesmente maravilhosa a imagem de um livro aberto?

28/7/05 08:40  
Anonymous Anónimo said...

olhe, M., a si ficou-lhe um livro. a mim devolveram-me um livro...

28/7/05 08:41  
Anonymous Anónimo said...

falaram em paredes brancas e nuas?!... pois ... varreu-se-me qualquer pensamento mais coerente ...

28/7/05 14:36  
Anonymous Anónimo said...

branco é muita zen, não é?

28/7/05 23:06  
Blogger Mente Assumida said...

Ó pá, ó Choco...

Enfim... Não tens cura mesmo, pois não?!

29/7/05 02:58  
Blogger M. said...

Miss Tangas... confesso que tenho curiosidade para saber que livro lhe devolveram ;o)...
Miss Chocozinha :o)
não percebi se foi a parte do branco ou das nuas que fez varrer qualquer pinsamiento...
Dona Mente
Boa madrugada ;o)

29/7/05 10:36  

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